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Segurança e potencial terapêutico do Canabidiol no Autismo

Atualizado: 4 de jul. de 2023



O arsenal terapêutico habitual no manejo do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) apresenta limitações claras em termos de eficácia e frequentemente está associado a efeitos colaterais importantes. Os derivados canabinoides, em especial o Canabidiol, surgem como uma ferramenta farmacológica promissora nesse contexto, uma vez que pesquisas clínicas demonstram a segurança e eficácia no controle de diferentes grupos de sintomas associados ao TEA. Neste conteúdo, falaremos dos mecanismos de atuação do Sistema Endocanabinoide nessa patologia e mostraremos como podemos utilizar os derivados canabinoides, em especial o CBD, no Autismo para alcançar melhores resultados com esses pacientes.

Sistema Endocanabinoide e doenças neuropsiquiátricas

As pesquisas em torno do Sistema Endocanabinoide (SEC) e das propriedades terapêuticas da Cannabis cresceram exponencialmente nas últimas décadas, mas ainda temos muito a desvendar sobre os mecanismos de atuação do SEC nas principais e mais prevalentes doenças neuropsiquiátricas como depressão, transtornos de ansiedade, Parkinson, Alzheimer e epilepsia.

Com relação ao Autismo não é diferente, mas os estudos que já temos até o momento apresentam resultados bastante promissores sobre o uso de canabinoides como o CBD no tratamento da doença. O SEC desempenha um papel fundamental no neurodesenvolvimento e revisões bibliográficas como essa reúnem estudos pré-clínicos e clínicos correlacionando os mecanismos de atuação do SEC ao estado neuroinflamatório que caracteriza o TEA.

Os achados científicos revelam, por exemplo, que os níveis sanguíneos de endocanabinoides como a anandamida (AEA) são mais baixos em crianças com autismo (em comparação com crianças neurotípicas), indicando que um desbalanço no tônus de funcionamento do SEC pode estar diretamente envolvido na etiologia e/ou progressão da doença. Nesse sentido, a modulação do SEC baseada em processos como neuroinflamação, neurogênese e funções cognitivas (como a memória) indica a ação potencialmente terapêutica dos canabinoides.

Não à toa, estudos clínicos demonstram que comportamentos como autolesão e hiperatividade podem ser significativamente reduzidos com o uso de CBD. E muito importante, quanto ao perfil de segurança, os achados apontam que o CBD é uma opção muito bem tolerada pelos pacientes, sem apresentar efeitos adversos relevantes, que frequentemente aparecem no uso de outras medicações utilizadas nesses pacientes, como antidepressivos, antipsicóticos e psicoestimulantes.

O uso do CBD no autismo

Conforme as pesquisas científicas evoluem, surgem novas abordagens para o uso do CBD no autismo. Um exemplo é esta revisão sistemática conduzida pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que traz estudos relacionando o uso dos canabinoides à redução da intensidade e do número de sintomas do TEA, como autolesão, hiperatividade, ansiedade, agressividade, agitação psicomotora e distúrbios do sono. Os autores ressaltam nesta revisão a propriedade terapêutica do CBD em alterar os níveis de glutamato, glutamina e GABA, que são substâncias que contribuem para a regulação da neurotransmissão excitatória e inibitória tanto em indivíduos neurotípicos como também em autistas.

Além disso, as pesquisas contempladas nesta revisão sugerem uma melhora na cognição, sensibilidade sensorial, atenção, interação social e linguagem dos pacientes com TEA.

Também é destaque este estudo publicado pela Frontiers in Pharmacology realizado com pais que administram canabinoides para seus filhos com autismo. Foram avaliadas 53 crianças com idade média de 11 anos (4-22), que fizeram uso de CBD durante uma média de 66 dias (30-588).

Os resultados mostraram que os episódios de autolesão e ataques de raiva (n=34) melhoraram em 67,6% dos pacientes e pioraram em 8,8%. Os sintomas de hiperatividade (n=38) melhoraram em 68,4% e pioraram em 2,6%, não havendo mudanças em 28,9% dos quadros.

Os problemas relacionados ao sono (n=21) melhoraram em 71,4% dos pacientes e pioraram em 4,7%. Os transtornos de ansiedade (n=17) melhoraram em 47,1% e pioraram em 23,5%. A pesquisa mostrou ainda que os efeitos adversos mais comuns observados ao longo do experimento foram sonolência e alteração do apetite, porém, ambos com intensidade leve.

Os mecanismos fisiopatológicos do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) permanecem em investigação. A refratariedade dos pacientes aos tratamentos convencionais segue sendo um dos principais desafios da comunidade médica no manejo desse transtorno e nos impulsionam na busca por melhores resultados com esses pacientes. Com a evolução das pesquisas sobre Sistema Endocanabinoide e Cannabis medicinal, muitos neurologistas e psiquiatras já estão cientes da importância de aprofundar seus estudos na área e incorporar essa importante ferramenta no seu arsenal terapêutico.

Referências

Barchel D, Stolar O, De-Haan T, Ziv-Baran T, Saban N, Fuchs DO, Koren G, Berkovitch M. Oral Cannabidiol Use in Children With Autism Spectrum Disorder to Treat Related Symptoms and Co-morbidities. Front Pharmacol. 2019.

Carbone E, Manduca A, Cacchione C, Vicari S, Trezza V. Healing autism spectrum disorder with cannabinoids: a neuroinflammatory story. Neurosci Biobehav Rev. 2021 Feb;121:128-143. doi: 10.1016/j.neubiorev.2020.12.009. Epub 2020.

Silva EAD Junior, Medeiros WMB, Torro N, Sousa JMM, Almeida IBCM, Costa FBD, Pontes KM, Nunes ELG, Rosa MDD, Albuquerque KLGD. Cannabis and cannabinoid use in autism spectrum disorder: a systematic review. Trends Psychiatry Psychother. 2021.

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